Por Stephen Leahy
RIO DE JANEIRO, 19 de junho (TerraViva) “Muito decepcionante” é a forma como empresas e organizações não governamentais descreveram, hoje, as negociações intergovernamentais formais na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20.
Depois de dois anos, negociadores de mais de 190 nações concordaram com um documento de 49 páginas destinado a ser o roteiro para essa transformação. Ele será apresentado aos chefes de Estado no Rio de Janeiro, na abertura da reunião de alto nível da cúpula, no dia 20. Funcionários da ONU disseram que era altamente improvável que qualquer mudança seja feita. O documento deixa de fora o fundo de US$ 30 bilhões para financiar a transição para uma economia verde proposto pelo Grupo dos 77 (G-77), bloco de nações em desenvolvimento mais a China, e não define Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (SDGs) tangíveis para substituir as Metas do Milênio, que expiram em 2015.
“Isso é extremamente decepcionante…. Não há visão, não há dinheiro e realmente não há compromissos aqui”, disse Lasse Gustavsson, chefe internacional da delegação para a Rio+20 do World Wildlife Fund (WWF). “A Rio +20 deveria ter sido sobre a vida, sobre o futuro dos nossos filhos, dos nossos netos. Deveria ter sido sobre florestas, rios, lagos, oceanos dos quais todos nós estamos dependendo para a nossa segurança de alimentos, água e energia”, declarou ao TerraViva.
A conferência foi um contraste gritante com a emocionante atmosfera de “vamos mudar o mundo” da primeira Cúpula da Terra em 1992, disse Robert Engleman do Worldwatch Institute, um “think tank” ambiental internacional. Enquanto o documento de forma geral re-confirma compromissos passados de uma forma muito passiva, há uma nova confirmação a respeito da importância da preservação de sementes tradicionais, e a consideração sobre fortalecer o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), afirmou ao TerraViva.
“Este documento é uma grande decepção, não há ambição e pouca referência aos desafios planetários que enfrentamos”, disse Kiara Worth, representando o grupo Crianças e Jovens na Rio +20. “As vozes da sociedade civil e as futuras gerações não serão ouvidas. Devemos chamar este evento de ‘Rio menos 20′ porque estamos indo para trás”, declarou ao TerraViva.
Steven Wilson do International Council for Science, uma organização não governamental que representa organismos científicos nacionais e uniões científicas internacionais, observou que “a evidência científica é clara. Nós vamos precisar de um esforço global em ciência e tecnologia para atender o maior desafio que a humanidade já enfrentou, e eu não entendo porque não há uma seção no documento sobre a ciência. Isto passa uma mensagem muito infeliz”.
Jeffery Huffines da Civicus World Alliance for Citizen Participation, organização com sede em Joahnnesburgo, na África do Sul, opinou que “nós temos um sistema econômico fundamentalmente falho e nós da sociedade civil esperávamos que os governos do mundo reconhecessem essa realidade, mas eles não fizeram isso.” Em vez disso, há 49 páginas de conceitos, sem quaisquer compromissos ou meios para avançar com estes conceitos. O papel da participação da sociedade civil tem sido limitado. “Precisamos de uma tomada de decisões mais democrática, e não menos”, enfatizou. Envolverde/IPS
(FIM/2012)
Pingback: A diretriz do Rio é decepcionante, dizem grupos da sociedade civil | Envolverde
Pingback: A diretriz do Rio é decepcionante, dizem grupos da sociedade civil (IPS) « Uma (in)certa antropologia