Por Clarinha Glock
RIO DE JANEIRO, 20 junho (TerraViva) – O taxista Sérgio Cardoso Soares, 61 anos, não integra a comitiva de nenhum país, não milita em qualquer organização não governamental de direitos humanos, nem faz parte de uma empresa multinacional privada. Soares, que trabalhou como funcionário público durante quase 20 anos e foi demitido durante o plano econômico do governo de Fernando Collor de Mello, começou a pilotar seu táxi justamente porque estava em uma fase de indefinição econômica e pessoal. O Rio de Janeiro vivia então a efervescência da ECO 92. Naquele ano, Soares começou a plantar em um sítio na cidade de Vassouras as 35 árvores frutíferas que trouxeram de volta para a região pássaros de todos os tipos. “Precisava deixar a política sindical de lado e viver o meu politicamente correto”, contou.
Foi driblando o trânsito da capital carioca que conseguiu se manter e criar os dois filhos, hoje adultos, deixando de lado a experiência como desenhista técnico. Durante a Rio 92, acompanhou uma jornalista que cobria as movimentações do então primeiro-ministro da Espanha Felipe González. Agora, na Rio+20, enquanto dirigia o seu carro em direção ao Riocentro – local da conferência para onde se dirigiam todos os olhares – e ouvia no rádio as críticas ao documento final apresentado pelo governo brasileiro, apontou suas próprias conclusões sobre o histórico encontro: “Tenho visto uma mudança clara. Quem vai fazer as grandes mudanças do futuro são as pessoas dos movimentos sociais que estão nas ruas. A voz deles é que vai repercutir”, previu.
Se os governantes não fizerem nada, a população vai fazer, acredita. Soares encontrou na fila de exposições do Forte de Copacabana sobre meio ambiente pessoas que nunca antes haviam se importado com o tema da ecologia. “Empregadas domésticas que usam solventes e produtos químicos no dia a dia estavam lá. São elas que vão fazer a diferença, ao exigir das patroas produtos mais saudáveis. Vão sentir como o trabalho delas é importante e cobrar dos políticos o saneamento dos lugares onde moram”, acredita. E resumiu: “As pessoas que você pensa que não estão na história, estão tentando escrever uma nova história”. (IPS/TerraViva)
(FIM/2012)