Manipadma Jena
YEOSU, Corea del Sur, 30/5/2012, (IPS) – Enquanto aproxima-se a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), entre 20 e 22 de junho no Rio de Janeiro, proliferam as dúvidas sobre a viabilidade de uma “economia verde”.
Especialistas, ativistas e políticos estão divididos com relação ao que é necessário para tirar do ponto morto as negociações internacionais com vistas a uma redução nas emissões de carbono, causadoras da mudança climática.
Para enfrentar a crise, alguns acreditam ser necessária uma completa mudança de paradigma e um afastamento total da ideologia do livre mercado, enquanto outros consideram que esta ainda tem seus méritos. Para o diretor-executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), Achim Steiner, a chave do sucesso é uma postura intermediária entre estes dois enfoques.
Guru do meio ambiente cuja carreira literalmente cresceu junto com o conceito de desenvolvimento sustentável, concebido há 20 anos na Cúpula da Terra, também realizada no Rio de Janeiro, Steiner durante anos impulsionou negociações no tumultuado cenário da crise ecológica mundial. Por ocasião da Expo 2012, que acontece nesta cidade portuária sul-coreana, cujo tema principal é a proteção dos oceanos e recursos marinhos do planeta, a IPS conversou com Steiner sobre as possíveis soluções para a crise climática mundial.
IPS: Qual o estado do meio ambiente mundial desde a Cúpula da Terra de 1992?
Achim Steiner: O balanço em termos gerais continua negativo. Não conseguimos o que nos propusemos em 1992, que era introduzir um maior grau de sustentabilidade na economia mundial. Temos mais pessoas consumindo mais, há perda de biodiversidade, avança uma crise por causa da sobrepesca, as emissões continuam aumentando e a ideia de que de algum modo podemos desligar o consumo de recursos e a contaminação não teve êxito. Entretanto, ainda não nos deparamos com um dilema sem solução. Temos uma extraordinária gama de exemplos de como o desenvolvimento pode ser sustentável. Não é por acaso que entrou em cena o conceito de economia verde no contexto de desenvolvimento sustentável e erradicação da pobreza. O desafio que enfrentamos, e no qual reside a importância da Rio+20, é como aproveitamos essas boas lições, pois sabemos que podemos fazê-lo.
IPS: Seria mais fácil se a mudança viesse de cima?
AS: Seria bom se quem está acima não se interpusesse no caminho. O que vemos hoje é que os arquitetos de nossas políticas econômicas às vezes participam do enfoque corporativo. Muitas vezes também são uma obstrução ou uma restrição à inovação, o que impede que venham à tona as tecnologias verdes, nem que sejam testadas novas políticas.
IPS: Na Rio+20, provavelmente, também se discutirá a expansão e o fortalecimento do mandato do Pnuma. Que papel acredita que esta agência deve cumprir nos próximos anos para manter a saúde dos oceanos e a subsistência das comunidades pesqueiras?
AS: É fundamental encararmos os três principais fatores que afetam o futuro de nossos oceanos. A contaminação é o primeiro, não só a gerada na terra como a derivada do comércio marítimo. Mais de 75% das viagens comerciais são feitas por mar. E a contaminação por novas formas de exploração de recursos, extração de petróleo, perfuração marítima e pesca em alto mar estão afetando a funcionalidade dos oceanos. O segundo tema é a pesca e a biodiversidade marinha. Estamos minando as reservas de proteínas disponíveis, a ponto de estarem entrando em colapso. Os subsídios governamentais à pesca somam US$ 27 bilhões anuais, dos quais estimamos que US$ 20 bilhões sejam usados em combustíveis. Assim, estão estimulando a superexploração. Temos que mudar esse regime de subvenções. Devemos reduzir a capacidade da pesca industrial e deter a ilegal. Temos que restituir os abastecimentos de peixes, particularmente para as comunidades pesqueiras tradicionais. É a única forma de podermos conseguir tanto o objetivo ambiental de manter as reservas como a meta social de preservar o sustento de milhões de pescadores. Também devemos entender como as áreas protegidas podem ser fundamentais para as nações. As zonas protegidas representam menos de 1% do total, e queremos chegar a 10%.
IPS: Os críticos do esquema de Compensação pelos Serviços do Ecossistema alertam que a avaliação econômica ou monetarização da natureza e das florestas podem fazer com que estas sejam usadas pelos países mais pobres como garantia para suas dívidas e acabem nas mãos de seus credores. Qual sua opinião?
AS: Sem dúvida, o risco existe, mas diminui confirme as florestas vão se convertendo em um tema público e as sociedades as considerem um bem nacional, tanto do ponto de vista econômico quanto ecológico. Em cada sociedade e em cada economia há uma tentação de explorar os recursos naturais por lucro no curto prazo. Porém, associar a ideia do pagamento dos serviços dos ecossistemas a algo que pode ameaçar as florestas é como dizer que não devemos usar dinheiro como meio de transação porque pode ser usado para fins de corrupção. É a mesma coisa avaliação econômica e monetarização? Não necessariamente. Nós, na maioria dos contextos, vendemos nosso trabalho por dinheiro. Esta é a forma como negociamos. Por que deveríamos traçar esta linha imaginária que separa os serviços dos ecossistemas e não considerá-los parte de nossa realidade atual?
IPS: Se o mundo fizer uma mudança de modelo e se afastar da atual base para calcular o produto interno bruto, quais componentes seriam ideais para serem usados nesse cálculo?
AS: Necessitamos de um indicador mais sofisticado. A maioria das pessoas hoje reconheceria que o aumento do PIB é extremamente cru e não constitui um legítimo indicador do progresso econômico e de desenvolvimento, pois não reconhece que uma sociedade tem uma reserva natural de riqueza, junto aos serviços que a natureza nos oferece. Talvez, a atual forma de calcular o PIB não desapareça, mas não manterá seu monopólio para determinar o êxito ou o fracasso econômico de um país. Muitos governos, de fato, estão prestes a adotar um sistema mais amplo de cálculo. Envolverde/IPS (FIN/2012)