Thalif Deen
Nações Unidas, 25/5/2012, (IPS) – O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, expressou sua frustração pela falta de progressos substanciais nas discussões sobre um plano de ação a ser aprovado na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20).
“Estou decepcionado com as negociações. Não estão avançando rápido o suficiente”, lamentou.
O secretário-geral acredita que a Rio+20, que acontecerá entre 20 e 22 de junho, no Rio de Janeiro, é o espaço ideal para tratar dos principais problemas econômicos e ambientais do planeta. “Temos um plano ambicioso para conseguir um progresso real. Contudo, necessitamos de um acordo nos temas mais difíceis”, afirmou. Este acordo, no entanto, continua difícil de ser alcançado, apesar das várias rodadas de negociações realizadas a portas fechadas.
“Parabenizamos Ban Ki-moon por colocar o desenvolvimento sustentável como tema central de seu segundo mandato”, declarou à IPS o diretor-político do Greenpeace Internacional, Daniel Mittler, que acompanha de perto as negociações. “Compartilhamos a decepção com o fato de os governos darem prioridade aos países que contaminam, flexibilizam seus compromissos e se perdem em centenas de colchetes (indicadores de desacordos), em lugar de trabalharem pelo futuro que queremos: com zero desmatamento, oceanos saudáveis e energia para todos”, acrescentou.
Ban deve continuar deixando claro que desta maneira não se chegará a nada, opinou Mittler. Consultado sobre as possibilidades de se concretizar um documento positivo antes de começar a cúpula, respondeu que “até agora, o que está sobre a mesa para a Rio+20 é vergonhosamente inadequado”. Ressaltou que os governos atendem aos interesses dos que contaminam e não do restante das pessoas, e acusou especificamente Canadá e Estados Unidos de “diluírem seus compromissos”.
Mittler contou que, em uma sessão das negociações, a delegação norte-americana alegou que tinha “um problema com a palavra ‘comprometer’. Isto resume a situação em que nos encontramos hoje, com governos que vergonhosamente não estão dispostos a se comprometer, nem a fazer as transformações que precisamos”.
A Rio+20 fará uma revisão dos passos dados desde a Cúpula da Terra, realizada no Rio de Janeiro em 1992, que reafirmou a integração do meio ambiente à agenda de desenvolvimento das Nações Unidas. Depois de duas longas sessões, o Comitê Preparatório (Prepcom), integrado pelos 193 países-membros da ONU, continua fortemente dividido. Após uma reunião no mês passado, o PrepCom realizará nova sessão no dia 29 e outra, final, de três dias em meados de junho no Brasil, pouco antes de começar a Rio+20, para discutir o plano de ação proposto, chamado “rascunho zero”. As negociações também incluem cinco encontros regionais.
Antecipando-se a outro fracasso na próxima semana, o secretário-geral disse que solicitou aos governos que concluam o rascunho do plano de ação, intitulado O futuro que queremos, bem antes do início da Rio+20. “Não podemos esperar até que cheguem ao Rio”, advertiu Ban, acrescentando que “um êxito significa que haverá luz em lugares onde as pessoas antes viviam às escuras, e alimentos para as famílias que hoje estão famintas”. Um acordo no Rio de Janeiro também dever proteger os oceanos e melhorar a vida nas cidades, acrescentou, afirmando que “permitirá avanços em todo nosso planeta”.
Entretanto, o porta-voz do secretário-geral, Martin Nesirky, disse na semana passada aos jornalistas que ninguém deve se surpreender com a dificuldade desse processo. “É uma conferência grande e importante, e naturalmente seus objetivos também são muito importantes para toda a humanidade. Assim, deve-se esperar que as negociações preliminares sejam complexas”, observou. Na semana passada, Ban Ki-moon afirmou que é esperada a participação de aproximadamente 70 mil pessoas na cúpula, incluindo mais de cem líderes mundiais, bem como representantes da sociedade civil, do setor privado e da mídia internacional.
Por seu lado, Mittler indicou à IPS que a Rio+20 deveria conseguir um acordo para deter o desmatamento e propiciar uma revolução energética baseada nas fontes renováveis e na eficiência. Também lembrou que há uma área em que os governos ainda não podem conseguir verdadeiros progressos: a proteção do mar. Atualmente, mais de 60% dos oceanos são explorados e não há forma legal de criar áreas protegidas em alto mar, que não se encontra sob nenhuma jurisdição nacional em particular.
Muitos governos, cientistas e organizações não governamentais pressionam para que, ao final da Rio+20, seja concretizado o Acordo sobre Biodiversidade em Alto Mar. No momento, segundo Mittler, este acordo ainda está sendo negociado. “Dependendo de os governos se comprometerem ou não, se verá claramente a quem estão ouvindo, se o povo ou os que contaminam”, ressaltou. Envolverde/IPS (FIN/2012)