Naimul Haq
Daca, Bangladesh, 23/5/2012, (IPS) – Especialistas acreditam que Bangladesh pode desempenhar um importante papel na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), que acontecerá de 20 a 22 de junho no Rio de Janeiro.
Esse país da Ásia meridional, um dos mais afetados pela mudança climática, tem a vontade necessária para iniciar um diálogo pela ação, mas seu grande desafio no encontro no Brasil será fazer com que os líderes dos países ricos reconheçam seu potencial.
Em conversas com a IPS, políticos, funcionários governamentais, economistas e ambientalistas coincidem em que Bangladesh pode ter uma voz forte na mesa de negociações da Rio+20. Quando foi realizada a primeira Cúpula da Terra, em 1992, este país apenas começava a implantar certos programas para reduzir a pobreza e a mortalidade materna e infantil. Também começou a tomar medidas para garantir a segurança alimentar, reduzir a brecha de gênero no ensino primário e secundário, aumentar a cobertura de imunização para menores de cinco anos, preparar-se para desastres, garantir acesso a água potável e realizar projetos para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.
Há 20 anos, Bangladesh não estava suficientemente maduro, nem política nem economicamente, para fixar a agenda na conferência internacional. Agora, após dois anos de liderança entre os países menos adiantados (PMA), apresenta um passo mais firme. “Apesar de ser um dos PMA, Bangladesh está em boa posição para alcançar alguns dos ODM”, afirmou à IPS seu ministro de Meio Ambiente e Florestas, Hasan Mahmud.
Por sua vez, o economista Abul Barakat afirmou à IPS que “Bangladesh deveria adotar um enfoque de diplomacia política e econômica”. Acrescentou que, apesar de os temas da agenda da Rio+20 serem fundamentalmente econômicos e ambientais, a solução sempre passa pelo âmbito político. Barakat, que escreveu para numerosas publicações internacionais durante sua carreira de 30 anos como professor, destacou que Bangladesh “pode emergir como o principal negociador dos PMA para exigir uma compensação pelos danos causados com as emissões de carbono. De fato, Bangladesh deveria abandonar sua estratégia de exigir tecnologias de mitigação e adaptação e passar a cobrar diretamente compensação (econômica) às nações mais ricas”.
Fahmida Khatun, chefe da unidade de pesquisa em Bangladesh do Centro para o Diálogo Político, declarou à IPS que a “Rio+20 é, sem dúvida alguma, uma oportunidade para que este país obtenha benefícios financeiros e tecnológicos”. Quanto à mudança climática, “Bangladesh tem o direito de cobrar uma compensação pelos grandes desastres, como as recorrentes inundações, a elevação do nível do mar, a salinidade, a seca e outros desastres naturais”, acrescentou.
Khatun sugeriu que o governo do país poderia aproveitar a plataforma da Rio+20 para compartilhar suas experiências com os ciclones Sidr, em 2007, e Aila, em 2009. Recordou que durante um ciclone anterior, em 1991, mais de um milhão de pessoas morreram. Após essa dura lição, Bangladesh adotou medidas efetivas para limitar a alguns milhares o número de mortos durante as posteriores tempestades Sidr e Aila, semelhantes em intensidade, algo que poderia servir de modelo ao mundo, destacou a especialista.
Bangladesh também é legitimado por seus extraordinários êxitos em redução da pobreza, firme aumento nas remessas estrangeiras e crescimento das exportações de confecções (de US$ 17 bilhões no último ano financeiro). Tudo isto, destacaram os especialistas, foi alcançado apesar de uma crise política e de um lento crescimento econômico. Bangladesh agora é um “fazedor”, e não deve mais ser considerado um simples “beneficiário” das nações ricas.
“Todo desenvolvimento sustentável deve ter a humanidade como centro, e necessitamos de apoio financeiro, científico e tecnológico. Precisamos de uma sólida associação, mas, lamentavelmente, nossos sócios não estão dando o que prometeram no passado”, disse à IPS o presidente da Fundação Palli Karma-Sahayak, Qazi Kholiquzzaman Ahamad, que chefiará a delegação de Bangladesh à Rio+20. “Dos US$ 30 bilhões prometidos pelas nações ricas, para países vulneráveis perante o clima, pouco mais de US$ 3,5 bilhões foram entregues em dois anos. Desta vez (na Rio+20) não devemos perder a oportunidade de cobrar o que necessitamos”, acrescentou.
Por sua vez, o diretor-executivo do Centro de Bangladesh para Estudos Avançados, Atiq Rahman, afirmou à IPS que, “naturalmente, temos que aproveitar oportunidades de transição para uma economia verde”. A Rio+20 poderia ser a plataforma para Bangladesh assumir um papel de liderança em outras conferências internacionais nas quais poderiam ser realizadas negociações mais focadas e cara a cara, observou. O coordenador-residente da ONU em Bangladesh, Neal Grant Walker, felicitou o país por sua postura proativa no processo preparatório da Conferência. “Bangladesh deixa rapidamente de ser um PMA para ser um país de renda média. Não deve haver dúvida de que tem muito em jogo no resultado da cúpula do Rio”, ressaltou. Envolverde/IPS
(FIN/2012)