Karina Boeckmann
Berlim, Alemanha, 6/6/2012, (IPS) – A degradação da terra ameaça todos os seres vivos que povoam o planeta, incluídos os humanos.
Para deter este fenômeno, a Convenção das Nações Unidas de Luta contra a Desertificação impulsiona um objetivo de desenvolvimento sustentável a ser adotado na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. Trata-se da Degradação Terrestre Zero.
“Não deveríamos esgotar o futuro que queremos”, disse aos jornalistas, em Berlim, o secretário-executivo da Convenção, Luc Gnacadja, referindo-se ao tema central da Rio+20, “O futuro que queremos”. A Conferência acontece este mês no Rio de Janeiro, duas décadas depois da primeira Cúpula da Terra, também nesta cidade. Segundo Gnacadja, acordar um objetivo de desenvolvimento sustentável sobre o uso da terra na Rio+20 é um requisito para garantir a futura segurança hídrica, alimentar e energética.
Ao dirigir-se aos jornalistas na capital alemã, o ex-ministro do Meio Ambiente, Habitação e Desenvolvimento Urbano de Benin apresentou um informe da Convenção que pede à Rio+20 a adoção de “um objetivo independente sobre uso sustentável da terra e da água para todos e por todos (na agricultura, reflorestamento, energia e urbanização) mediante o compromisso com um mundo neutro em matéria de degradação terrestre”.
“Precisamos nos concentrar em duas dimensões da terra: nas áreas degradas e nas não degradadas”, diz o documento. Nas que ainda não foram afetadas, deve-se evitar a degradação, e “nas que já estão degradadas, é necessário restabelecer a fertilidade e a produtividade do solo. Em outras palavras, a Degradação Terrestre Zero pode ser conseguida quando, em um determinado período, a degradação da terra ou é evitada ou compensada pela restauração da terra”, acrescenta. “Devemos devolver à vida a terra produtiva. A terra é nossa aliada natural, porém a sua paciência não é eterna”, conclui o documento.
“Os seres humanos têm múltiplas demandas sobre a terra, e estão aumentando”, apontou Gnacadja. “Há necessidade de alimentos, forragens e combustíveis. Necessita-se de terras para assentamentos humanos e infraestrutura, para serviços ambientais, sequestro de carbono no solo, e vegetação, bem como para metais e minerais”, detalhou. Contudo, atualmente, perde-se 12 milhões de hectares por ano devido à degradação e à desertificação.
Segundo os especialistas, a produção alimentar é o fator individual decisivo na perda de terra. De fato, é provável que sejam necessários três planetas Terra para atender as demandas do consumo humano até 2050. Para 2030, nove bilhões de pessoas precisarão de 120 milhões de hectares a mais para produzir 50% mais alimentos, destacou Gnacadja. A demanda por energia e água para usos agrícolas aumentará 40% e 30%, respectivamente.
Alguns dos fatores que prejudicam os sistemas de terras, águas e nutrientes são o crescimento demográfico, a degradação e a desertificação, a mudança climática e o maior padrão de vida, a mudança de dieta, a urbanização, o desperdício e as perdas na cadeia de fornecimento, além de um comércio globalizado, indica o informe. O documento acrescenta que a cada minuto a população humana aumenta em 150 pessoas.
Entre 25 e dez hectares são perdidos por culpa do desmatamento tropical e da degradação dos solos, respectivamente, enquanto a urbanização consome outros 5,5 hectares por minuto. Em todo o mundo, 25% da terra já experimenta uma alta degradação, o que afeta 1,5 bilhão de pessoas. Esta degradação contribui para a insegurança alimentar, a fome, as migrações, o desmatamento, a instabilidade política e os conflitos civis. Também dá lugar ao fenômeno de investir em terras em outro país para produzir alimentos e biocombustíveis, advertiu Gnacadja.
Considerando que em 2050 os países asiáticos constituirão 60% da população mundial, não surpreende que Índia e China estejam investindo em terras africanas, alerta o documento da Convenção contra a Desertificação, segundo a qual chegou o momento de a comunidade internacional se comprometer com um mundo neutro em matéria de degradação da terra. O mundo deveria aspirar uma degradação zero até 2030 em matéria de terras e florestas, e implantar políticas de contingência para secas em todos os países propensos a este tipo de evento extremo, até 2020.
“É possível alcançar este objetivo, e sabemos como fazê-lo”, disse Gnacadja, que é arquiteto. O documento da Convenção apresenta números concretos: mais de dois bilhões de hectares em todo o mundo são adequados para a reabilitação. Destes, 1,5 bilhão seriam propícios para a “restauração em mosaico”, o que significa as florestas se combinando com outros usos, como agrossilvicultura e pequena agricultura.
Gnacadja também pede urgência na criação de um Painel Intergovernamental sobre Terras e Solos como uma autoridade mundial com conhecimentos científicos e técnicos nesse tipo de degradação. Os esforços mundiais para combater a degradação de terras darão seus frutos em vários setores, afirmou, lembrando um estudo feito pelo Instituto Internacional de Pesquisa sobre Políticas Alimentares.
O informe Economics of Land Degradation (Economia da Degradação da Terra) analisa os custos dos métodos de prevenção deste fenômeno em comparação com os que são previstos pela falta de ação em muitos países. Um antigo provérbio dos indígenas norte-americanos diz: “Não herdamos a terra de nossos ancestrais, as pedimos emprestada aos nossos filhos”. É com esta verdade em mente que a Convenção cobra urgência para uma ação imediata de combate à degradação. Envolverde/IPS (FIN/2012)