Por Clarinha Glock
RIO DE JANEIRO, 17 jun (TerraViva) O primeiro painel dos Diálogos para o Desenvolvimento Sustentável, que abordou o tema “Desemprego, Trabalho Decente e Migrações”, consolidou uma experiência que pretende se tornar um marco a ser replicado em outras grandes conferências das Nações Unidas, apesar da crítica de organizações não-governamentais como Greenpeace e SOS Mata Atlântica, que se retiraram das discussões.
O processo dos “Diálogos” começou em abril, quando uma plataforma virtual ajudou a eleger os 10 temas que foram depois discutidos por representantes de 30 universidades e centros de pesquisa. Mais de 12 mil pessoas sugeriram os assuntos considerados prioritários e 63 mil usuários da Internet em todo o mundo votaram. Foram mais de um milhão de votos e propostas.
A recomendação número um escolhida dentro do tema “Desemprego, Trabalho Decente e Migrações” foi priorizar a educação. “Foi um processo inovador, democrático e que mostrou a necessidade de implementar o trabalho digno dentro de uma sociedade sustentável”, disse à Terraviva Sharan Burrow, da Confederação Sindical Internacional. Ao definir como prioridades a justiça social, a proteção social do trabalho e o emprego verde como objetivos, disse Burrow, o “Diálogo” atendeu às demandas da sociedade, acredita. Os problemas dos migrantes e suas famílias, que se movem em busca do emprego, também receberam atenção especial dos participantes.
Cada tema reuniu especialistas tão diversos quanto Nana-Fosu Randall, fundadora e presidente da ONG Vozes das Mães Africanas, Carmen Helena Ferreira Foro, secretária de Mulheres Trabalhadoras Rurais da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura do Brasil, James K. Galbraith, professor da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, Daniel Iliescu, da União Nacional dos Estudantes do Brasil, e Huilin Lu, professor da Universidade de Pequim.
“Viajando pela África, vejo muitos jovens morando nas ruas, vagando sem emprego, envolvidos com drogas e participando das guerras”, disse Nana-Fosu Randall.
“É preciso criar programas para estes jovens, porque eles serão as lideranças de amanhã do nosso continente. Temos grandes recursos naturais. Faço um apelo a nossos líderes que usem estes recursos para treinar os jovens em vez de gastar com armas; a criar empregos, oferecer educação e capacitação para que tenham uma vida melhor”, reforçou.
Huilin Lu lembrou que o principal problema na China, ao contrário de outros países, não é tanto a questão do desemprego quanto a proteção à mão de obra que não tem sua saúde e segurança salvaguardadas.
“Muitos que usam aqui seus computadores se perguntaram em que condições eles são fabricados?”, questionou.
Segundo Lu, no início do século 20 houve um incentivo à maior proteção dos direitos dos trabalhadores, mas eles estão sendo agora reduzidos com a internacionalização do capital. “A internacionalização da proteção social do trabalho deveria ser prioridade”, afirmou o professor.
Nem só de números tratou o “Diálogo sobre Desenvolvimento Sustentável como resposta à crise econômica e financeira’.
Kate Raworth, pesquisadora da organização Oxfam, do Reino Unido, sugeriu que se mudem os textos dos livros escolares. Durante seu período na faculdade de economia nunca ouviu falar de meio ambiente, criticou.
Das sugestões apresentadas, foram votadas três de cada painel – pelos técnicos, representantes das entidades e plateia – que serão entregues aos chefes de Estado. Os debates para definir as recomendações dos “Diálogos” continuam hoje e vão até o dia 19 de junho. Vão abordar, entre outros temas, “Energia Sustentável para todos”, “Oceanos”, “Florestas”, “Segurança Alimentar e Nutricional”.
Em entrevista coletiva realizada ontem (16), o embaixador Luiz Figueiredo, um dos negociadores da delegação brasileira da Rio+20, ressaltou que os chefes de Estado receberão e discutirão as recomendações feitas pelos “Diálogos” em quatro mesas redondas durante os três dias da Conferência, de 20 a 22 de junho, junto com a implementação das propostas definidas no documento final. (FIM/2012)