Fabiana Frayssinet
RIO DE JANEIRO, Brasil, 15/6/2012 (TerraViva) Diante da exigência crescente dos consumidores e da necessidade de recursos naturais sustentáveis para seus próprios negócios, os empresários passam a incorporar cada vez mais o compromisso ambiental como um ativo.
Alguns exemplos: um consumidor adquire refrigerante de uma determinada marca, cujo fabricante necessita de um recurso que começa a escassear no planeta: água. Uma empresa hidrelétrica que desmata milhares de quilômetros quadrados para construir uma represa é pressionada pelos moradores das comunidades afetadas e pelas autoridades que as representam e deve conceder uma compensação social e econômica pelos danos.
Uma companhia de petróleo que explora um poço no fundo do mar recebe um multa multimilionária dos órgãos ambientais competentes por um vazamento que destruiu espécies e afetou a biodiversidade dos oceanos.
Uma siderúrgica transnacional deve abandonar um país, após investir dezenas de milhões de dólares em uma fábrica, devido às demandas de uma comunidade pelo impacto contaminante de resíduos tóxicos.
São casos reais, que têm por trás nomes específicos de companhias do mundo inteiro que não incorporaram a variável ambiental aos seus negócios. E é uma lição aprendida e incorporada nos cursos de administração empresarial. “É um assunto de administração de risco no longo prazo. Questões como água, energia, podem impactar a produção e os negócios. Todo empresário tem por obrigação administrar riscos”, resumiu ao TerraViva a secretária-executiva do Pacto Mundial Brasil, Yolanda Cerqueira.
Segundo disse, as companhias começam a se comprometer ambientalmente “por interesse de seus negócios, além do interesse para promover uma melhoria na qualidade de vida das pessoas e do planeta”.
Lançado em 2000, o Pacto Mundial das Nações Unidas é uma plataforma à qual se somam voluntariamente companhias que devem assumir um compromisso com a sustentabilidade e as práticas de responsabilidade ambiental e social nos negócios.
Conta com corporações de 135 países e se apresenta como a maior iniciativa de cidadania corporativa do mundo. O Pacto organiza no Rio de Janeiro, entre os dias 15 e 18, o Fórum de Sustentabilidade Corporativa, que faz parte das reuniões paralelas à Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, que reunirá chefes de Estado e de governo do mundo todo, entre 20 e 22 deste mês.
“O processo de se comprometer ambientalmente dos empresários é fundamental, primeiro porque seus negócios podem desaparecer se não estiverem preparados. Em segundo lugar, porque são cada vez mais assediados pelos consumidores conscientes, um movimento em rápido crescimento no mundo”, explicou ao TerraViva o ex-deputado Fernando Gabeira, um dos fundadores do Partido Verde brasileiro.
Yolanda destacou que ao Pacto Mundial aderiram até agora sete mil empresas de todo o mundo. O objetivo é chegar a 20 mil em oito anos. São companhias que incorporam de maneira crescente o risco ambiental em seus cálculos e processos de negócio.
“Há muitas firmas recuperando água ou reduzindo drasticamente seu consumo na produção, porque compreendem que é um recurso finito”, afirmou ao mencionar o exemplo de um dos “ativos ambientais” considerados.
O contraditório, reconheceu Yolanda, é o perfil de muitas das empresas supostamente comprometidas com o meio ambiente. Um alto número possui nos países onde atuam denúncias como as maiores contaminadoras e devastadoras dos recursos naturais.
Trata-se, entre outras, das corporações petrolíferas e mineradoras. Gabeira disse compreender o argumento dessas companhias de que precisam de tempo para se adaptar às mudanças e, portanto, considerou essa contradição “como temporária”. Contudo, também destacou que “existe muito atitude de pura maquiagem, de pura imagem e marketing”.
Para Gabeira, a chave “é a pressão do consumidor”. Em casos como petróleo e mineração, nos quais o consumidor não é determinante na aquisição do produto, a alternativa é a “grande pressão internacional exercida, às vezes, a partir dos países compradores”.
O ex-deputado considera que outro fator que “prejudica muito os empresários e que nos ajuda como consumidores é a competição. Os principais encarregados de denunciar seus erros ecológicos são seus competidores. Nesse processo, o comportamento ecológico passa a ser uma moeda de troca”.
Do Fórum de Sustentabilidade Corporativa sairá uma proposta para os chefes de Estado e de governo, que abordarão temas como água, alimentos, agricultura, padrões de consumo e produção. (FIN/2012)