Por Mario Osava
RIO DE JANEIRO, 19 junho (TerraViva) O alvo foi o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). É porque financia as hidrelétricas que estão desgraçando a vida dos índios, justificou Renato Nambikwara, do Mato Grosso.
Mais de 500 índios marcharam pelas ruas centrais do Rio de Janeiro, na manhã de segunda-feira, partindo do Aterro do Flamengo, onde ocupam uma das tendas da Cúpula dos Povos, e culminando na sede do BNDES. Não foram recebidos pela direção, mas protestaram contra os grandes projetos apoiados pelo banco.
Demarcação das terras indígenas, não ao etnocídio e às hidrelétricas diziam alguns dos cartazes.
As barragens que estão obstruindo os rios Juina e Juruena são a principal ameaça aos índios da região em que se localiza a Terra Indígena Nambikwara, em que vivem 1.250 pessoas, no centro-oeste do Mato Grosso, explicou Renato que veio ao Rio de Janeiro participar da conferencia Rio+20.
Muitas pequenas centrais já foram construídas ou estão planejadas para os rios Juina e Juruena, cujas aguas engrossam o Tapajós, um dos grandes afluentes do Amazonas onde também se prevê construir cinco hidrelétricas, neste caso grandes, dentro de alguns anos.
Além disso, a lavoura de soja, algodão e outras monoculturas apertam o cerco aos índios, fazendo desaparecer a pesca, a anta e outros animais que compõem a alimentação tradicional.
Represas são, também, grandes inimigas para Ivan Bribis, da reserva Apucarana do povo Kaingang, perto de Londrina, no Paraná. O Rio Tibagi, que cruza a região rumo ao Paranapanema, na fronteira entre os estados do Paraná e São Paulo, já tem a Usina Mauá, com capacidade de 361 megawatts. Outra de tamanho similar é o próximo projeto e há propostas de se construir ali uma sequência de sete ou oito barragens.
O Tibagi praticamente deixará de ser um rio, já que sua extensão se limita a 550 quilômetros, temem os índios.
A luta pela terra é outra bandeira de Apucarana. A reserva só tem 5.600 hectares e 80 por cento é de proteção permanente, deixando pouca terra para os 1.700 habitantes. A extensão original, há 60 anos, era dez vezes maior. “Houve um erro de demarcação”, segundo Ivan, e a luta é para recuperar a área que consta dos documentos históricos.
O BNDES se tornou inimigo dos índios ao financiar hidrelétricas e também a produção de etanol, através das monoculturas de cana de açúcar que também prejudicam as terras indígenas, completou.
Na manifestação, que percorreu cerca de dois quilômetros, estava também a missionária equatoriana Nancy Oliva, que está no Brasil há seis anos, pela Congregação Laurita, apoiando os índios Xavante, também no Mato Grosso.
É importante a presença na Cúpula dos Povos, o encontro da sociedade civil da conferencia Rio+20 da ONU, para defender os direitos dos índios pela sua própria voz, em diálogo com outros povos, avaliou a religiosa católica. “Brasil é um país rico em natureza, terras”, mas isso não se estende aos índios.
“O desenvolvimento acelerado não considera os seres humanos”, as hidrelétricas lhes tiram o peixe, vital para a alimentação indígena. Para piorar uma ferrovia cruzará a terra Xavante, onde a falta de atenção médica obriga a levar crianças a cidades distantes. “Elas não regressam ou voltam no caixão”, lamentou a missionária. (IPS/TerraViva)
(FIM/2012)
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