Análise de Julio Godoy
RIO DE JANEIRO, 20 de junho (TerraViva) O clichê de que cúpulas gigantescas como a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, são “grandes demais para ter sucesso” também pode ser aplicado para as megalópoles dos nossos dias, tais como o Rio de Janeiro: elas são simplesmente grandes demais para se tornarem verdes e sustentáveis.
E ainda assim, este é precisamente o compromisso assumido pelos prefeitos das 59 maiores cidades do mundo, reunidas no chamado grupo C-40. Em um evento paralelo durante a Rio+20, os prefeitos do grupo C-40 lembraram que os maiores centros urbanos do mundo têm “o potencial de reduzir as suas emissões anuais de gases de efeito estufa em mais de um bilhão de toneladas até 2030″, uma quantidade equivalente às emissões anuais de México e Canadá juntos. Agora, os prefeitos querem reduzir as emissões em 45% até 2030.
Atenção para a palavra “potencial” – onipresente nestes dias de admissões humildes de bem conhecidos dados científicos sobre catástrofes concretas, e promessas vagas para enfrentar os problemas em algum momento no futuro. Na verdade, megalópoles em todo o mundo, do Rio de Janeiro à Cidade do México, de Tóquio a Xangai, têm um vasto potencial para reduzir sua poluição, porque elas são grandes poluidoras em primeiro lugar. Uma megalópole por si só constitui um desperdício sem sentido de energia, humana ou não.
Para mudar isso, as cidades precisam lançar uma revolução improvável e possivelmente pouco popular, que poderia afetar praticamente todos os aspectos da vida, dos transportes e a gestão de resíduos, até a geração e o consumo de eletricidade, o abastecimento de alimentos e a gestão populacional. Para uma tal revolução ter sucesso, as cidades deveriam parar de atrair populações rurais em busca de uma vida melhor nos grandes centros urbanos. Se a revolução fosse bem-sucedida, as megalópoles se tornariam capitais de países de contos de fadas, algo improvável de se tornar realidade em nossas vidas.
Vamos começar com o transporte. É sabido que a atividade de transporte é responsável por 13% de todos os gases de efeito estufa gerados pelo homem, e por 23% do dióxido de carbono (CO2) do mundo, provenientes da combustão de combustíveis fósseis. A dependência do petróleo é de assustadores 95%, sendo o setor responsável por 60% do consumo total de petróleo. Para reduzir a sua quota de poluição, as cidades teriam de oferecer transporte público eficiente e, simultaneamente, desencorajar o uso de automóveis particulares, aumentando substancialmente a tributação e os preços dos combustíveis, e limitando o acesso aos centros urbanos.
As cidades teriam de incentivar o uso de bicicletas, aumentar significativamente a eficiência de motores de combustão para reduzir os gases de escape e garantir a segurança para os usuários do transporte público, especialmente nos países em desenvolvimento. Hoje, o crime é um importante fator desestimulante para os cidadãos, particularmente as mulheres, usarem o transporte público.
Seria um eufemismo chamar esse conjunto de metas algo difícil de alcançar, caro, e muito provavelmente impopular. Mas isso é só o começo da lista de coisas a fazer para administrações e planejadores urbanos.
Embora o aquecimento não seja um problema grave nas cidades tropicais, ele o é em países com invernos frios. Nesses locais, otimizar o isolamento térmico dos edifícios é uma obrigação, e também é ter sistemas de condicionamento de ar mais eficientes durante os verões quentes. Isto requer enormes investimentos privados, que precisam do apoio de agências estatais de crédito, e cortes de impostos para torná-los atraentes para os cidadãos. Edifícios-modelo com emissões zero já existem em alguns países industrializados – mas eles são modelos, ainda estão muito longe de se tornarem o padrão da política habitacional.
Além disso, as cidades terão de depender cada vez mais em fontes renováveis – sol, vento, biomassa. Elas devem desencorajar resíduos, especialmente plástico, alumínio e outros compostos não degradáveis. Quando os resíduos são inevitáveis, eles deve ser reciclados. Cidades terão de usar fontes locais e regionais de alimentos para reduzir ainda mais as emissões dos transportes. E assim por diante …
Como já mencionado, a cidade sustentável do futuro não apenas deveria desencorajar a migração vinda do campo, como também teria que incentivar o retorno para as áreas rurais para reduzir a sua própria população. Em outras palavras, a cidade sustentável do futuro teria que espelhar o país sustentável do futuro, que oferece oportunidades para populações em áreas rurais, cruzadas por mais por ferrovias do que por rodovias, o país verde e socialmente justo de nossos sonhos.
Esse país não está logo ali na esquina, e certamente não se tornará possível por meio dessas conferências gigantescas, como a Rio+20. Esse país, os cidadãos terão de construir por conta própria. Envolverde/IPS
(FIM 2012)