Por Fabíola Ortiz
RIO DE JANEIRO, 15 jun (TerraViva) – Mulheres líderes brasileiras saem em defesa da equidade de gênero como forma de desenvolvimento sustentável em evento paralelo da Rio+20, Humanidade 2012, promovido pelo sistema da Federação das Indústrias no Forte de Copacabana.
Próximo de sedear o Fórum de Mulheres Líderes pela Igualdade de Gênero, o Empoderamento das Mulheres e o Desenvolvimento Sustentável e Cúpula de Mulheres Chefes de Estado, nos dias 19 e 21 de junho, no Riocentro, autoridades femininas brasileiras discutiram nesta sexta-feira, dia 15 de junho, a equidade de gênero como pressuposto para o desenvolvimento sustentável e a erradicação da pobreza.
Para a senadora Marta Suplicy do Partido dos Trabalhadores (PT de São Paulo), o movimento feminista foi o maior dos movimentos do século 20. “No último século tivemos movimentos históricos como a queda do muro de Berlim, mas foi o movimento feminista que propiciou as grandes mudanças da sociedade. Nós entramos na política e nos movimentos sociais”, discutiu Suplicy.
A Rio+20, segundo a senadora, é a primeira conferência que, não sendo de gênero, a mulher tem um papel preponderante e de preservação do meio ambiente. “No meio ambiente, estamos para brilhar e ser partícipes”, enfatizou.
Chamado para pacto global
Já para a ministra brasileira do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, que se mantém ativa nas atividades e discussões da Rio+20, há duas décadas na Rio92 o “mundo parou para dizer que a degradação ambiental não era o caminho”. Hoje, a Rio+20 representa um chamado para um pacto e acordo em torno de uma ação, destacou.
O modelo de crescimento econômico adotado nos últimos 20 anos, segundo o Banco Mundial, incluiu 600 milhões de pessoas que saíram da pobreza. Ao mesmo tempo, outras 26 bilhões de pessoas continuam sem acesso à saneamento básico e ainda 1 bilhão de pessoas não tem acesso à água. “Este não é um crescimento inclusivo”, argumentou Teixeira.
Dos cerca de 500 eventos paralelos oficiais à Rio+20 e outras 3.000 atividades não oficiais que acontecem na cidade anfitriã da conferência, cerca de 200 eventos se dedicam ao tema das mulheres. “A política de gênero está inserida na agenda sustentável e nas ações internacionais. Nós mulheres podemos fazer a diferença como já estamos fazendo”, destacou.
Mulher negra ainda desvalorizada
Embora no Brasil, 52% da População Economicamente Ativa (PEA) seja formada por mulheres, elas ocupam a base da pirâmide sócio-econômica com cargos mais baixos e menores salários. A desigualdade de oportunidade e de direitos é insustentável, afirmaram as lideranças.
Segundo admitiu à IPS, a ministra-chefe da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Luiza Helena de Bairros, a mulher negra continua sendo parte do segmento que vive mais desvantagens sociais.
“O segmento feminino foi o que mais se beneficiou dos processos de inclusão sócio-econômica que aconteceram no Brasil nos últimos oito anos. As mulheres negras que saíram da situação de pobreza estão em grande número. Mas isso revela o fato de que a situação da mulher negra era tão precária que, para conseguir uma inserção vantajosa na sociedade, será preciso ainda caminhar muito com políticas afirmativas”, afirmou.
No Brasil, ainda 16 milhões de pessoas vivem abaixo da linha da miséria, das quais 70% são pessoas negras, e destas mais de 60% são mulheres, o que corresponde a 6,7 mulheres negras na miséria.
Comunidades de matriz africana
Pensar um desenvolvimento sustentável inclusivo para as mulheres é focar especialmente nas comunidades tradicionais de matriz africana, salientou Luiza Helena de Bairros.
“Como as mulheres quebradeiras de coco, as marisqueiras e as pescadoras, são vistas dentro do desenvolvimento. Não podem ser vistas como um obstáculo se não, as mulheres dessas comunidades não serão valorizadas. Parte do desenvolvimento sustentável é promover o combate a todos os tipos de discriminação”, defendeu.
A ministra da Igualdade Racial deverá participar do Fórum de Mulheres Líderes, na próxima semana, que terá a presença da ex-presidente do Chile e atual diretora executiva da ONU Mulheres, Michelle Bachelet; a Presidente do Brasil, Dilma Rousseff; e da Argentina, Cristina Kirchner. Bairros espera que elas ocupem um espaço de protagonismo com poder de decisão.
“As mulheres ainda são vistas como instrumento, mas devem ter lugares de decisão. Para além de participar no dia a dia, elas devem ter a possibilidade de participar das grandes decisões da política pública e das empresas privadas que levem em conta o desenvolvimento sustentável inclusivo”, concluiu. (FIM/2012)