Por Fabíola Ortiz
RIO DE JANEIRO, 16 jun (TerraViva) – Não basta estar presente na Rio+20, tem que ter compromisso, é o que defende o biofísico brasileiro Henrique Lins de Barros, pesquisador do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF).
O pesquisador se baseia na ideia de que a diversidade cultural e a biodiversidade são essenciais para se pensar o desenvolvimento sustentável como um passo futuro da Rio+20.
Não só de discussões oficiais e de chefes de Estado e de Governo que se baseia a Conferência das Nações Unidas. Outros 500 eventos paralelos oficiais tem o objetivo de mobilizar a sociedade civil e trazer para o dia a dia a reflexão sobre a sustentabilidade.
Nesta sexta-feira, o pesquisador do CBPF falou a 70 adolescentes alunos de escolas públicas sobre a necessidade de mudanças de hábitos para preservar a diversidade biológica e mesmo garantir a permanência da própria espécie humana no planeta.
Autor do livro “Biodiversidade em Questão” (Editoras Fiocruz e Claro Enigma), Lins de Barros questiona a forma como o ser humano explora os recursos naturais e que pode traçar o mesmo destino que os dinossauros, a sua extinção.
“Com a falência ambiental, o homem pode rumar para a guerra e conflitos. Ou mudamos a forma com que usamos a natureza e lembramos que fazemos parte dela, ou não vamos mais ter espaço no planeta”, afirmou o biofísico.
A história da vida na Terra é de permanente perdas e extinções, destacou. “E o que nos levou hoje a esse estado que vivemos é o consumo exagerado e a poluição desenfreada. O que prevaleceu nesse período foi a ganância sem olhar para o meio ambiente”, disse.
150.000 espécies desaparecem por ano
Só o Brasil, país anfitrião da Conferência da ONU vinte anos depois da Rio92, abriga mais de 13% de todas as espécies conhecidas, além de 40% das florestas tropicais que desempenham um papel de regulação do clima do planeta.
A União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) estima que, no mundo, 11% das espécies de aves, 25% dos mamíferos, 25% dos anfíbios, 20% dos répteis, 34% dos peixes e 12% das plantas estão ameaçadas de desaparecer nos próximo 100 anos.
No mundo todo, estima-se que por ano, entre 20.000 e 150.000 espécies desaparecem, e boa parte delas se extingue por causa das ações humanas.
Dos mais de 200 países que compõem o mundo, apenas 17 detem mais de 70% da biodiversidade como Brasil, Bolívia, Colômbia, Congo, Costa Rica, Equador, Estados Unidos, Filipinas, Índia, Indonésia, Quênia, Madagascar, Malásia, México, Peru, África do Sul e China.
Só no Brasil, um total de 627 espécies de animais e 472 de plantas correm o risco de não mais constar do mapa da biodiversidade.
E ainda, o que restou atualmente dos diversos ambientes nativos também preocupa: a maior perda de cobertura verde se deu na Mata Atlântica, da qual resta apenas 27%, da Caatinga, restaram 63%, dos Pampas, 41%; do Cerrado, 60%; da Amazônia, 85%; e do Pantanal, 87%.
Lins de Barros defende um manejo sustentável das espécies tanto de animais quanto de vegetais.
“A gente tem que olhar o mundo de outra maneira. O homem pode traçar o mesmo destino que os dinossauros, a diferença que os dinossauros viveram milhões de anos e nós alguns pouco mil anos”, discutiu.
Contrato tecnológico com a natureza
Segundo disse à IPS, o biofísico que se lançou a pesquisar sobre a biodiversidade e a ajudar na popularização da ciência, a sociedade tem que procurar perceber o tamanho da crise e a sua responsabilidade. Ele defende um contrato tecnológico com a natureza.
Enquanto o filósofo francês Jean Jacques Rousseau elaborou o contrato social no século XVIII, em 1990, MichelSerres escreveu o contrato natural de forma a respeitar a natureza. “A minha crítica é que a natureza não assina contrato, mas a tecnologia tem que assinar. Temos então que fazer um contrato tecnológico”, defendeu.
Como podemos preservar a biodiversidade nas nossa vidas? Para Lins de Barros é possível, a começar por redimensionar a relação que temos com ela.
“Estamos cada vez mais presos e olhamos o mundo através de equipamentos, de um telescópio, um microscópio ou uma televisão. Temos que ter mais sensibilidade com a natureza e, assim, mudar as práticas sutilmente. Não haverá mudanças rápidas”.
No fundo, é ser mais modesto com o mundo, define.
O biofísico brasileiro participou do evento paralelo à Rio+20 no Armazém Pop Ciência, na região portuária do Rio de Janeiro, que reúne mais de 50 instituições de ensino e pesquisa, até dia 22 de junho, com atividades de divulgação da ciência, tecnologia e inovação para a sustentabilidade. (IPS/TerraViva)
(FIM/2012)