Por Marcelo Furtado *
RIO DE JANEIRO, 18 junho (TerraViva) A ascensão do Brasil e de outras economias emergentes é uma das grandes mudanças desde a Eco 92. Com o poder vem a responsabilidade.
Ao invés de paralisia política e ainda mais conversa, há vários desafios econômicos, sociais e ambientais que exigem a tomada de importantes decisões este mês no Rio de Janeiro. Por muito tempo, os líderes governamentais e empresariais têm lidado com os problemas econômicos de uma forma antiquada, como por exemplo, financiar setores “business as usual” (negócios feitos de forma usual/costumeira) – políticas que apenas provocaram uma maior agitação social e ambiental.
Mas houve uma mudança global no poder desde o encontro dos governos para a Eco 92 há 20 anos. Países como Brasil, China, Índia e África do Sul (os países BRICS) ganharam poder econômico e político nos últimos 20 anos – um desenvolvimento que oferece esperança de mudança política global.
Embora a pobreza ainda exista, os BRICS estão, em muitos aspectos, melhores do que seus colegas “altamente industrializados”: há uma grande taxa de desemprego é em Madrid e grande oferta de emprego em São Paulo. Uma recessão se instala na Grã-Bretanha, enquanto a China continua a crescer. Os BRICS estão agora solicitando mais influência política onde o poder mundial é discutido – e eles têm o direito de fazê-lo.
Entre essas novas potências econômicas, o Brasil ocupa um lugar especial. Talvez nenhum outro país no mundo tenha os meios – a estabilidade financeira, uma democracia madura e os ativos ambientais corretos – para prover um caminho de sustentabilidade e prosperidade.
Nesta nova ordem mundial, porém, países como o Brasil não podem apenas exigir ações do resto do mundo. Ele também deve responder à pergunta sobre o que o mundo pode esperar do Brasil. Com o poder vem a responsabilidade. Fundamentalmente, o Brasil exemplifica o dilema com o qual estamos todos nos confrontando: o desenvolvimento econômico versus a sustentabilidade.
Em 2012, o Brasil tornou-se a sexta maior economia do mundo e, por grande parte da década passada, foi corretamente elogiado como um líder global no desenvolvimento sustentável para simultaneamente reduzir o desmatamento e ainda reduzir a lacuna entre os ricos e os pobres.
Estas conquistas, no entanto, estão sob ameaça. Em maio, a presidente Dilma Rousseff falhou ao não vetar totalmente a lei do novo Código Florestal, que oferece anistia aos criminosos florestais e reabre a Amazônia para a destruição.
Quase 80% dos brasileiros se opuseram às prejudiciais mudanças do Código Florestal e cidadãos do Brasil e ao redor do mundo pediram a Dilma Rousseff para vetar a totalidade da lei e se comprometer a atingir o desmatamento zero na Amazônia até 2015. Ela não fez nenhuma dessas coisas.
Esta não foi é a liderança que o Brasil deveria estar mostrando. Durante a Rio+20, o Greenpeace chamará as pessoas do Brasil para fazer o seu pedido pelo Desmatamento Zero em voz tão alta que a presidente Dilma Rousseff terá que concordar.
Outra área em que o Brasil ainda pode mostrar liderança está nas decisões que toma em relação às reservas de petróleo do país na próxima década. Se o Brasil for em frente com seu desenvolvimento planejado para o petróleo do pré-sal, estará entre os cinco maiores produtores de petróleo do mundo em 2020, com emissões relacionadas ao petróleo ao mesmo nível daquelas que hoje são provenientes do desmatamento.
Atualmente, a matriz energética do Brasil – embora longe de ser perfeita dada a sua dependência de grandes hidrelétricas e energia nuclear – é uma das menos intensivas em carbono no mundo.
Portanto, se o país for investir o dinheiro que atualmente vai para desmatamento e exploração de petróleo em desmatamento zero e em uma revolução de energia renovável, poderia fornecer energia limpa para todos, ter uma floresta Amazônica próspera e empregos verdes decentes. Isso seria a verdadeira liderança – a liderança que o mundo precisa ver.
Como brasileiro, espero que o meu país cumpra sua responsabilidade global na Rio +20. Como anfitrião da cúpula, o Brasil não deve se esconder por trás da dificuldade de alcançar um consenso global, mas sim tomar a iniciativa de mostrar ao mundo que uma economia justa, limpa e verde é possível.
O mundo que queremos é possível, e o Brasil pode mostrar a liderança que precisamos para fazer isso acontecer.
* Marcelo Furtado é Diretor Executivo do Greenpeace Brasil. (FIM/2012)