Busani Bafana
Bulawayo, Zimbábue, 4/6/2012, (IPS) – Uma agricultura sustentável claramente definida deveria ser uma prioridade na agenda da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, afirmou Sameer Dossani, coordenador de campanhas internacionais da ActionAid, em entrevista à IPS.
Esta organização estará entre os 50 mil participantes previstos para o encontro. A Conferência, conhecida como Rio+20 por acontecer duas décadas depois da Cúpula da Terra, será realizada de 20 a 22 deste mês no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro. A ActionAid International será um dos 50 mil participantes esperados para o encontro.
IPS: Está funcionando o conceito de desenvolvimento sustentável? Vinte anos depois da Cúpula da Terra ainda estamos falando sobre isso.
Sameer Dossani: É verdade que alguns atores, talvez especialmente a Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática, parecem estar investindo muito dinheiro e tempo em processos que não vão a parte alguma. Sem dúvida, questionamos a eficiência destes processos e chamamos a comunidade internacional para abordar estes assuntos de maneira mais lucrativa. Entretanto, o desenvolvimento sustentável e os temas relacionados que serão discutidos no Rio de Janeiro são de vital importância para as comunidades, e manter o statu quo não é uma opção. Passar para o desenvolvimento sustentável é inevitável. Seja por uma mudança planejada estrategicamente ou de maneira gradual, ou que se dê em consequência de crises econômicas e de um aumento dos desastres climáticos, é uma questão que todos devemos decidir.
IPS: A pobreza mundial não está diminuindo, muito pelo contrário. Somos realistas quando falamos da necessidade de justiça social e climática?
SD: Não podemos falar de uma redução significativa da pobreza, mas sim abordar a questão da justiça. Para citar Nelson Mandela: “A pobreza não é uma acidente”. No mundo há muita pobreza, mas também muita riqueza, mais que suficiente para enfrentar estes problemas.
IPS: O mundo está pronto para mudar de rumo e abordar a mudança climática?
SD: O mundo tem que estar pronto. A alternativa é nefasta: maior frequência e intensidade dos desastres naturais vinculados ao clima, aumento dos conflitos pelos recursos, incapacidade das comunidades pobres para pagar os recursos cada vez mais escassos e caros, e, em última instância, a ameaça de perder cidades e áreas rurais pelo aumento do nível do mar.
IPS: Quais avanços foram alcançados desde a adoção da Agenda 21, o plano de ação para o desenvolvimento sustentável assumido na Cúpula da Terra de 1992?
SD: Alguns países europeus deram passos para reduzir as emissões, enquanto nações em desenvolvimento adotaram medidas para garantir que as comunidades mais pobres tivessem pelo menos acesso básico a direitos humanos primordiais, como o direito aos alimentos. A Lei Nacional de Garantia de Emprego Rural da Índia é um exemplo. Lamentavelmente, nem as iniciativas de desenvolvimento nem as reduções de carbono bastaram para garantir que todos possam gozar do direito de levar uma vida digna, e que aqueles suficientemente privilegiados para levar um estilo de vida de classe média não contaminassem o mundo para as futuras gerações. Também houve alguns avanços “falsos”, como a promoção de mecanismos que não abordam os problemas, e que às vezes parecem fazê-lo. A promoção dos biocombustíveis, por exemplo, não só não aborda o problema das emissões de carbono (a maioria dos que estão em uso ainda emite grandes quantidades de carbono), como também coloca os cultivos alimentares em competição direta com os que são usados para elaborar combustível. Esta prática tem que acabar. Como primeiro passo, os países deveriam pôr fim aos subsídios e incentivos aos biocombustíveis.
IPS: Quais são suas expectativas quanto à Rio+20?
SD: Gostaríamos que na cúpula os países assumissem um forte compromisso para uma agricultura sustentável claramente definida, bem como para traçar um processo que represente uma virada da agricultura industrial para um modelo que coloque as vidas e o sustento dos produtores e da população rural à frente de outras preocupações, incluído o lucro. Uma vez que se acorde isto, a ActionAid exortará os países – especialmente os do Grupo dos 20 (ricos e emergentes) – a garantirem que haja financiamento suficiente para ajudar as comunidades a passarem para uma agricultura sustentável, resiliente ao clima. Os US$ 100 bilhões comprometidos pelos líderes dos países ricos na 15ª Conferência das Partes (COP 15) da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática, de 2009 em Copenhague, seriam um bom ponto de partida para começar a falar sobre os fundos adicionais necessários. Envolverde/IPS
(FIN/2012)