Por Julio Godoy
RIO DE JANEIRO, 19 de junho (TerraViva) Três países industrializados – Estados Unidos, Canadá e Japão – e a Rússia bloquearam um avanço substancial na proteção dos oceanos na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, no Rio de Janeiro, de acordo com ativistas ambientais.
O projeto final da declaração conjunta a ser aprovada pela sessão plenária da Rio+20 expressa um compromisso geral para “proteger e restaurar a saúde, produtividade e resistência dos oceanos”, mas deixam de abordar diretamente as questões mais prementes da conservação marinha. Estas incluem um regime de governança eficiente para o alto mar, por meio da criação de áreas marinhas protegidas, da redução da pesca de espécies ameaçadas, e da proteção das de alto mar contra a chamada biofertilização, proposta por alguns cientistas como forma de impedir ou reduzir a acidificação da água do mar causada pela mudança climática.
Outra questão vital é a garantia de acesso e a distribuição dos benefícios dos recursos marinhos entre as nações. Os cientistas concordam que a biodiversidade marinha está severamente ameaçada devido à mudança climática, que está aumentando a acidificação da água do mar, a pesca predatória, principalmente pelos países industrializados, e a poluição em geral.
De acordo com Susan Brown, diretora de política global e regional do Fundo Mundial para a Natureza (WWF), “quatro países são culpados pelo mundo não avançar na proteção dos oceanos.” Estes quatro países – Estados Unidos, Canadá, Japão e Rússia – “bloquearam todas as tentativas para alcançar um acordo ambicioso em matéria de proteção dos oceanos. Estamos profundamente desapontados”, afirmou Brown ao TerraViva.
Outros especialistas concordam com as opiniões de Brown. Susan Lieberman, vice-diretora de política internacional do Pew Environment Group, disse que a declaração final da Rio+20 “reconhece que há inúmeras questões urgentes a resolver para garantir a saúde dos oceanos, (mas) ao mesmo tempo é pedido um par de anos para começar a fazer algo. É uma vergonha”, acrescentou.
Susanne Fuller, da Alliance High Seas, lamentou que “nenhum compromisso real foi assumido no Rio de Janeiro para proteger os oceanos”.O que a Rio+20 decidiu “é uma promessa de que vai esperar três anos para decidir se deve ou não agir. Nós não temos tempo para esse absurdo “, enfatizou.
Outros cientistas participantes na Rio +20 falaram sobre a situação preocupante dos oceanos. Axel Rogers, professor de biologia marinha na Universidade de Oxford, relatou ao TerraViva sobre sua pesquisa recente no sul do Pacífico. “Eu vi devastação além da imaginação. Arrastos de águas profundas com redes finas estão simplesmente destruindo toda a vida e o solo marinho. Existem grandes áreas do sul do Oceano Pacífico que já estão privadas de qualquer vida”, alertou.
Até mesmo os líderes de instituições internacionais expressaram seu desapontamento com o acordo alcançado no Rio de Janeiro, no que se relaciona com a proteção dos mares. Monique Barbut, ex-diretora-executiva da Global Environment Facility, maior instituição financeira pública para projetos ambientais, contou que tinha “reservas” sobre o acordo, especialmente em relação à proteção dos oceanos.
Em muitos casos, destacou, “só uma moratória imediata da pesca e embargo sobre o consumo” permitiria a recuperação de espécies marinhas ameaçadas, como o atum de barbatana azul do Mediterrâneo. E tal moratória imediata é simplesmente impossível – vários países-membros da União Europeia, em especial França e Espanha, nunca aprovariam essa ação. Envolverde/IPS
(FIM/2012)