Por Fabíola Ortiz
RIO DE JANEIRO, 21 Junho (TerraViva) – O êxodo de populações da Somália para o Quênia ou Etiópia de finais de 2010 e ao longo de 2011 aponta para a discussão de uma nova preocupação mundial: os refugiados climáticos que se veem obrigados a deslocar-se para países vizinhos após serem atingidos por extremos do clima.
Este deslocamento em massa em alguns países africanos, em especial do leste do continente, é ocasionado por longos períodos de seca somado aos conflitos armados que existem na região.
Este tema tem sido motivo de preocupação para o escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), que aproveitou a Conferência Rio+20 para lançar, nesta quinta-feira, dia 21 de junho, o relatório “Mudanças climáticas, vulnerabilidade e mobilidade humana”.
O estudo se baseia no relato de 150 refugiados do Leste da África e avalia as tendências globais para o deslocamento forçado e suas relações com mudanças climáticas e desastres naturais.
O relatório foi realizado pelo ACNUR em parceria com o Instituto para Meio Ambiente e Segurança Humana da Universidade das Nações Unidas com o apoio da London School of Economics e a Universidade de Bonn, na Alemanha.
Segundo o reitor da Universidade da ONU, Konrad Osterwalder, “o relatório dá destaque à importância para a necessidade de compreender as experiências reais de pessoas vulneráveis que sofrem com os estresses ambientais”.
O alto comissário para Refugiados, Antonio Guterres, reconheceu que o relatório vem a confirmar relatos de refugiados que sofrem com extremos climáticos há alguns anos.
“Os refugiados fazem de tudo para continuar vivendo em suas casas e em suas terras, mas quando as suas colheitas já não rendem, seus estoques de alimentos e cultivos já não garantem a subsistência, eles não tem outra alternativa que não se mudar”, afirmou Guterres.
“Estou convencido que as mudanças no clima irão piorar ainda mais as crises de deslocamentos no mundo. É muito importante que o mundo ajude a reagir e a dar respostas a estes desafios”, anunciou em Guterres.
De acordo com o porta-voz do ACNUR no Brasil, Luiz Fernando Godinho, ainda não há uma definição técnica sobre o termo ‘refugiado climático’, mas admite que, de fato, cada vez mais pessoas se deslocam no mundo em decorrência de fenômenos associados ao clima. E à medida que avançam os impactos ambientais, o número de deslocados só tende a piorar.
“O ACNUR fez um apelo na Rio+20 para que estejamos atentos para a existência de refugiados que se deslocam por força de mudanças extremas do clima. Não há por parte da comunidade internacional um conjunto de medidas e convenções para dar garantias a essas pessoas que se movem por desastres naturais”, disse Godinho à IPS.
Existem no mundo 15 milhões de refugiados, dos quais 10 milhões estão sob o mandato das Nações Unidas. No entanto, não é possível saber quantos destes foram deslocados por força de catástrofes naturais.
Apenas a Somália, o terceiro maior país em número de refugiados tem hoje 1.1 milhão de refugiados, três vezes mais que em 2004. O país sofre com conflitos armados, mas também com crises associadas à seca e à fome. (TerraViva/FIM)