Fabíola Ortiz
Rio de Janeiro, 14/06/2012 (TerraViva) Cientistas marinhos e defensores dos oceanos aspiram na Rio+20 a uma nova era na conservação dos mares. Após duas décadas da Rio92 que tratou os oceanos como uma questão secundária, atualmente menos de 1% dos oceanos está protegido e 85% das populações de peixes estão ameaçadas.
O tema dos oceanos e a proteção à biodiversidade nas águas profundas em áreas para além da jurisdição nacional são uma das sete questões prioritárias que estão sendo discutidas na Conferência Rio+20, que decorre até dia 22 no Rio de Janeiro.
Nas discussões para o documento final, dois parágrafos enfatizam a necessidade de melhorar o gerenciamento dos recursos do oceano. O risco é que as discussões sejam diluídas, admite Kristina Gjerde, da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN – International Union for the Conservation of Nature).
Na conferencia Rio+20, a High Seas Alliance, aliança que reúne mais de 20 organizações e institutos que pesquisam sobre os mares no planeta e defendem mecanismos de governança dos oceanos e cooperação internacional para áreas de proteção em alto mar, discutiu rumos para alcançar um acordo de proteção dos oceanos.
A Rio+20 é a chance de negociar um novo acordo para implementar a Convenção da ONU para os Direitos do Mar, de 1982, que aborde a conservação e o uso sustentável da biodiversidade marinha em áreas para além da jurisdição nacional. A meta é definir que 10% das áreas marinhas devem ser protegidas até 2020.
Eliminação da pesca ilegal
Cientistas e defensores dos oceanos querem ainda metas para manter e restaurar as populações de peixes com estoques e eliminar a sobrepesca até 2020. Dados da ONU para a Agricultura e Alimentação dão conta que, desde 1950, dois terços das populações de pescado no mundo já entraram em colapso devido a sobrepesca.
A FAO estima que 85% da população de pescado é explorada até seu esgotamento. Só a pesca ilegal é responsável pela perda de 26 milhões de toneladas de peixes não identificados, de um total mundial de captura de peixes de 80 milhões de toneladas.
Lixões flutuantes
Segundo Kristina Gjerde, o oceano está sendo forçado para além de seus limites que o ambiente marinho é capaz de suportar devido à pesca excessiva e à quantidade de lixo marinho flutuante no mar. “Há um grande volume de plásticos tóxicos, especialmente no Pacífico, mas há lixões flutuantes em todos os oceanos. Há mais de 500 mil pedaços de plástico concentrado em uma área de um quilômetro quadrado. Os animais consomem o plástico e absorvem a poluição”, disse.
Outro fator que põe em risco a sobrevivência dos oceanos são as mudanças climáticas. O aquecimento das águas marinhas causado pela elevação das temperaturas globais já foi detectado até mesmo a mais de 3.000 metros de profundidade.
Segundo Gjerde, o aumento das temperaturas no oceano é responsável pela intensificação de ciclones tropicais e por desequilibrar a atividade pesqueira provocando a migração de pescado com a mudança das dinâmicas de corrente.
“As mudanças climáticas afetam os oceanos aumentando o nível dos mares e a temperatura, e assim atrapalha a dinâmica das correntes marinhas. O gelo dos icebergs não estão mais mantendo-se congelados”, discutiu.
Blue carbon em alto mar
Um novo conceito que se discute é o “Blue Carbon”, o valor do carbono armazenado em ecossistemas marinhos. Especialistas estimam que depósitos de carbono nestes ecossistemas podem ser até cinco vezes maior que os armazenados em florestas. Com a degradação dos ecossistemas marinhos, as emissões de CO2 tem sido significativas.
Para Gjerde, já é possível discutir “economia azul” no sentido de compreender a economia gerada pelos oceanos numa base mais sustentável. Mais de três bilhões de pessoas no mundo dependem da biodiversidade marinha e costeira para o seu sustento. O mercado das indústrias e dos recursos marinhos alcança a 3 trilhões de dólares por ano, representando 5% do PIB planetário.
A maior contribuição econômica do oceano é a pesca que movimenta 100 bilhões de dólares. Enquanto só a pesca ilegal gera uma perda de mais de 20 bilhões de dólares por ano. (FIN/2012)