Amantha Perera
Colombo, Sri Lanka, 21/5/2012, (IPS) – O ano passado foi repleto de extremos para a pequena aldeia de Verugal, no Sri Lanka. Primeiro foram as inundações, depois a seca; tudo conspirou contra uma boa colheita de arroz.
Localizada na costa nordeste da ilha, Verugal iniciou o ano com chuvas incessantes. Entre janeiro e fevereiro de 2011 as chuvas destruíram sete mil hectares de arrozais neste povoado, e 17% da colheita anual de arroz do país.
Algumas aldeias ficaram isoladas durante várias semanas. “Trabalhei duas semanas usando colete salva-vidas”, disse Ponnanbalam Thanesvaran, diretor da secretaria da divisão de Verugal e máximo funcionário do governo na região. Em setembro, apenas amainaram as chuvas, a natureza voltou a impactar o povoado, mas desta vez com o outro lado da moeda: uma seca.
Thanesvaran disse à IPS que entre setembro e outubro sua principal tarefa foi fornecer água potável às aldeias afastadas, algumas das quais ficaram isoladas pelas inundações ocorridas há apenas nove meses. “Foi incrível como, em menos de um ano, tivemos uma inundação e uma seca”, afirmou.
Com a proximidade da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), que acontecerá de 20 a 22 de junho no Brasil, especialistas locais promovem maiores esforços para transmitir a mensagem sobre os variáveis padrões climáticos às populações mais afetadas e menos informadas, como os produtores de arroz do Sri Lanka rural.
A colheita de arroz no Sri Lanka caiu de 4,3 milhões de toneladas em 2010 para cerca de 3,9 milhões de toneladas no ano passado, declarou à IPS o diretor do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento sobre o Arroz, Nimal Dissanayake. A maior parte da perda de colheitas é atribuída às inundações, mas Dissanayake explicou que a seca também é responsável pelo baixo rendimento.
Desde as fortes perdas de 2011, o país está determinado a conseguir uma colheita historicamente alta este ano, na medida em que os eventos meteorológicos extremos amainarem, prevê para começo deste mês a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Espera-se que a colheita mundial de arroz para este ano supere os registros de 2011, ao se dissiparem as erráticas condições climáticas causadas pelo fenômeno La Niña e com os agricultores aumentando suas plantações, segundo o prognóstico.
Thanesvaran afirmou à IPS que muitos dos agricultores de Verugal esperam melhores cultivos para este ano. No vizinho distrito de Polonnaruwa, que também foi muito prejudicado pelas inundações, houve declarações semelhantes. “Desta vez, tudo parece ir bem”, disse Karunaratne Gamage, produtor da área arrozeira de Madirigiriya, em Polonnaruwa, principalmente porque os padrões meteorológicos se mantém estáveis.
Porém, especialistas como Dissanayake apontam pesquisas segundo as quais os variáveis padrões do tempo tiveram severo impacto na produção de arroz do Sri Lanka, e que deveriam ser abordados muito seriamente. Qualquer mudança na produção de arroz tem e continuará tendo efeitos no país.
Segundo o Departamento de Censos e Estatística, uma típica família do Sri Lanka consome 36 quilos de arroz por mês, o que converte este alimento no mais popular por ampla margem. Para as famílias rurais, é o insumo básico das três refeições diárias.
Pesquisas da Fundação do Sri Lanka para o Meio Ambiente, Clima e Tecnologia indicam que a influência dos padrões variáveis de chuvas sobre o rendimento anual do arroz foi “significativa” nas duas últimas décadas. Também indicam que durante os períodos do fenômeno El Niño – Oscilação do Sul (ENOS) – as colheitas de arroz apresentaram flutuações.
Na fase do El Niño, em que as temperaturas aumentam, os estudos indicam que a produção cresce. Isto ocorre na temporada de colheita que acontece entre outubro e março. Depois cai durante a colheita secundária, de abril a agosto. Este padrão mudou durante a fase de La Niña, mais fria, causando ciclones e inundações, não apenas no Sri Lanka, mas também em outras partes da Ásia.
Dissanayake acredita que isto se deve ao fato de os agricultores deste país usarem água de chuva para irrigar arrozais, e dependerem de um frágil sistema de manejo hídrico. “A colheita secundária do ano passado foi melhor, porque as águas da inundação ajudaram na semeadura”, afirmou. “O problema é que os agricultores não entendem a gravidade da situação. Ainda estão acostumados a esperar as chuvas e que o governo lhes dê água das reservas”, acrescentou.
Gamage admitiu que, no terreno, são limitados os conhecimentos sobre as mudanças nos padrões climáticos e as estratégias de adaptação. “A população sabe que aconteceu algo estranho com os últimos padrões meteorológicos, mas, além disso, não há muito conhecimento ou planejamento com vistas a possíveis mudanças”.
O Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento sobre o Arroz desenvolveu variedades que podem suportar severas mudanças no tempo, mas Dissanayake declarou que atualmente são usadas apenas em áreas que estão há mais de três meses sem água. Também lamentou que os agricultores tenham pouco ou nenhum interesse em usar novas tecnologias do produto que sejam resistentes às mudanças meteorológicas.
Independente das chuvas, os agricultores continuam usando sementes cuja maturação leva até cinco meses durante a principal safra de colheita, ou três meses durante a temporada secundária.
Dissanayake ressaltou à IPS que o arroz é considerado um “cultivo de pobres”, que gera baixos ganhos e não atrais as grandes empresas. Assim, “não se investe muito em novas tecnologias” ou em métodos de adaptação. Envolverde/IPS
(FIN/2012)